terça-feira, 12 de agosto de 2008

Perpétuando as suas memórias

PERPETUANDO AS SUAS MEMÒRIAS

Das muitas casas e pessoas existentes nos Lugares de Cancelos , Midões , Rio Mau e a Freguesia de Pedorido, poucas foram as pessoas que não foram pescadores, gente que apesar de tirar durante meses parte do seu sustento tinhamm forma própria de lhes agradecer.
O rio sabia e sabe que jamais alguém ousava maltratá-lo (tratavam-no com carinho não o poluindo). è a esta gente simples e amorosa que partilhava entre si as alegrias e amarguras da vida para quem o seu rio era sempre parte integrante deste convívio e confissões.
Tive o privilégio de conhecer muit0s deles chegando mesmo a pescar com alguns. Todos mereciam uma refrência especial, mas não seria possivel fazê-lo aqui mas se ainda tiver tempo procurarei faze-lo em trabalho mais pormenorizado.
O Guerguenteiro do Ti Jaquim Ferreira, homem perspicaz aquem fugiu uma enguia da rede no Castelo e foi pescá-la passado duas horas umas milhas muito acima não tendo dúvidas que era a mesma.
Do Tomáz Bichinhas que sendo um péssimo pescador de cana conseguiu a proeza de ir um dia pescar ao Carneiro. Quando puxou a cana, veio no enzol uns óculos e continuando a puxar passava na altura uma perdiz e a cana matou-a, caíu para tráz atrapalhado e esmagou um coelho na cama a dormir , deu-lhe semelhante volta à barriga que esteve toda a noite na sentina a cagar 480 bichas. Não dormiu nada nessa noite porque as contou.
O Agostinho Ferreira que deitava as cabaceiras no Carneiro disse que eram tantas as Bruxas que o barco não andava nem para cima nem para baixo, não havia corrente e não ventava , como ele possuído de medo não remava é mais que evidente que o barco teria de estar sempre no mesmo sitio. Contava que quando pescava com o Ti Armando Venâncio, dizia ele que boa chumbeirada está conhada deles, só que a chumbeira tinha ido parar a um campo de milho, o Ti Américo Rouxinol, Ti Abano, Gordinha, Rouxinol e tantos e tantos outros homens e mulheres.
Estes homens e mulheres viveram numa perfeita comunhão com a natureza, cujos hábitos herdei porque cresci com esta gente generosa. De há muitos anos a esta parte regressei ao meu cantinho, fui substituir o meu Pai no seu posto, homem que teve de emigrar para juntamente com sua esposa apoiar os meus quatro irmãos. Foi a pior coisa que lhe poderia acontecer ter de deixar aquilo que tanto amava. Não se ausentou muito tempo as suas presensas aqui eram frequentes e o seu querido rio sabia que ele nunca o abandonaria definitivamente. Felizmente que ainda regressei a tempo de o substituir, assim como ele tinha substitguído o meu Avô. Herdei o último Barco dele, bem como os pardelhos, mugeira e chumbeira, aliás todas os artefactos dessa saudosa pesca artesanal. Substitui o velho Barco por um exactamente igual, um Valboeiro. Concertei as velhas redes que jaziam abandonadas nos fundos da casa e embora já não fosse permitido pescar, ía matando a saúdade mantendo essa secular a tradição. O que pescava era para comer ou dar, mas um dia apareceu uma Brigada da Guarda Fiscal e aprendeu-me as velhas redes, o velho Valboeiro, as muitas e boas recordações de um tempo que passou mas permanece dentro de mim a viver como se tudo se tivesse passado ainda ontem.
O meu Pai e avó mereciam que alguém continuasse as artes do rio, mas reconheço que terminou um ciclo. É este o preço a pagar pela modernidade, não compreendendo todavia porque nascem os peixes e morrem sem que possam ser pescados dando assim de de comer a muita gente que infelizmente não tem pão para a boca. Não compreendo como pôde alguém deserdar-nos da pesca de tradições milenares reportadas aos tempos dos Fenícios primeiros navegadores deste rio. Não compreendo como se pode alterar e apagar a história com absurdas proibições que a nada nem a ninguém beneficiam. Não compreendo tanto cuidado com o abstracto e tanto desprezo pelas pessoas.
Há um silêncio grande, pesado aqui em Cancelos à beira do Douro. Só os fantasmas desses tempos navegam agora no rio. Quem me roubou o rio de antigamente; quem me tirou as redes, o barco e me matou a esperança!?
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1 comentário:

  1. Jamais irei perder esta oportunidade de ter começado de forma original o relato de facto reias e uma vez mais como tem acontecido voltar à estaca zero por falta de titulo
    Comentário: Maló

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