terça-feira, 12 de agosto de 2008

O PUTO DO MEIO DO RIO

Naquele dia 23 de Janeiro de 1943, num dia invernoso nascia uma criança do sexo masculino e que de acordo com o registo de assento de casamento apenas teria seis meses e meio. Nada teria de importante este pequeno pormenor, porque o meu Pai comeu e assumiu não fosse ter durado mais de 50 anos a tentativa dele querer dizer que as coisas já íam bastante adiantadas. Sempre dizia que eu tinha uma Lua a menos nunca lhe tinha perguntado o que pretendia dizer com isso até que um belo dia quando ele já se encontrava em fase terminal da doença cancerosa que o vitimou ter sido necesssário uma Certidão para eles de acento de casamento. Foi então que ao ler a mesma me apercebi que tinham casado pelo civil em Julho do ano anterior e eu tinha nascido em Janeiro.
Chegado a casa disse-lhe que pelo tempo de nascimento eu tinha a menos mais que uma Lua, foi para ele uma enorme alegria, ao invés da minha Mãe que não gostou nada do que tinha acabado de ouvir, mas depois até gostou e deu para umas gargalhadas. Mas voltando aos dias que se seguiram ao meu nascimento foram dias de enorme dificuldade já que o tempo de gravidez tinha sido difícil e o parto não foi muito fácil. Valeu a sabedoria da Senhora que assistia aos partos. Uma senhora sem formação de Enfermagem mas que com o trabalhar das mãos fazia autênticos milagres. Tive a felicidade de ainda a poder conhecer era uma Senhora fabulosa. Esteja onde estiver obrigado por me ter feito viver.
Estavamos em plena Segunda Guerra Mundial as dificuldades eram enormissimas, os trabalhos não abundavam e o meu Pai que tinha em tempos sido Rachador de Lenha ( Machado que ainda hoje conservo ) tinha enorme dificuldade em arranjar trabalho. Mas como trabalhador que sempre foi durante toda a vida recuperou logo que chegou o Mês de Fevereiro com a pesca do Sável e da Lampreia. Recuperou monetáriamente e com o dinheiro ganho compraram uma casa em Cancelos terra que fica em frente de Midões apenas separada pelo Rio Douro mas a comunicação entre as duas populações eram diárias até porque tinham a possibilidade de se comunicarem falando de uma margem para a outra.
Com o findar da Guerra em 1945 aparecia o meu Irmão Joaquim e para complicar ainda mais as coisas, a inquilina que habitava a casa que compramos em Cancelos resolveu não a deixar e assim ainda tivemos de estar dois anos para o conseguir e valeu a minha Mãe ter conseguido arranjar-lhe uma casa em Sebolido e pagar-lhe dezoito meses de renda. Em conformidade com a lei desse tempo assistia-lhe esse direito. Se o a cima exposto já deveria chegar. A dificultar ainda mais as coisas veio uma Doença grave ao meu Pai que o impediu de trabalhar durante oito meses.
Passamos a habitar em Cancelos mas o contacto com Midões era frequente viviam aí os Familiares do lado da minha Mãde, se antes era frequente ficar em Cancelos em casa dos meus avós paternos para possibilitar a minha Mãe pescar, depois invertiam-se , ficava em casa das minhas Tias já que por volta dos 4 anos a minha avó Mãe Chica falecera.

O COMEÇO DE UMA LONGA HISTÓRIA

Deveriam-me ter recebido normalmente os miúdos de Cancelos, pois era frequente a minha presença cá no Lugar, mas ao terem conhecimento da minha mudança para a casa do Tapado do Coelho em definitivo e até talvez pelo facto do Tono Pires aqui ter nascido, dificulou imenso a minha integração.
Começaram por me aquecer o corpo todos os dias, recebiam-me muito mal, e o desprezo era total. Durou algum tempo esta situação mas pouco tempo depois eu já me tinha imposto e em alguns casos até tinha conseguido virar o feitiço contra o feiticeiro.
Consegui impor-me e aos miúdos e miúdas que eram muitos naquele tempo e qual deles o mais traquina, não lhes restou outra alternativa se não a de me terem de aceitar. Cedo comecei a ser mentor do Grupo.
Devo confessar que não fui um bom Mentor nem o poderia ser pois os mais v elhos que eu não eram boas recomendações.

A MOVIMENTAÇÃO:

Práticamente todo o Transporte de Mercadorias e Vinhos eram feitos pelos Barcos Rebelos e Rabões, o que nos permitia ouvir muita gente. Nos meses da Pesca ao Sável e Lampreia juntavam grande número de homens e mulheres que juntos diziam as mais variadas asneiras, o que nos permitia ouvir e a ter um conhecimento acima da média. A muita caça que existia nas Fragas e em que os Caçadores que nos visitavam nos pagavam para arremessar-mos pedras para as perdizes levantarem permitam-nos ter unas tostões para uns rebuçados e outras coisas mais.

ENTRADA NA ESCOLA

Deveria ter entrado como qualquer miúdo, mas cedo foram avisar a professora que iriam entrar 2 miúdos que não seriam nada fáceis de controlar.
Quando entrei fui logo privilegiado pela Professoara teve a preocupação de não colocar nenhum miúdo ao meu lado esse lugar ao meu lado ficaria reservado para o Fifas um miúdo que era um exemplo pela negativa como eu. Veio uns dias depois do início das aulas. Mas o lugar era cativo. Ela se bem o pensou melhor o fez e para impôr o respeito ainda não tinha passado meia hora e o Amadeu começou a falar, ela arremessou a régua do meu lado com tanta força que a mesma partiu ao meio. Veio logo o primeiero treino a seguir. Bateu mais a mim do que a ele pois segundo ela eu era mais culpado porque era mais velho na Escola. Estava aberto um ciclo que se iria manter até há quarta classe e o mesmo aconteceria com a Catequese, esta por outras razões e a falta de incentivo que semprer tive no que toca a religiosidade. A partir daqui era frequente fugir da Escola, facilitado ainda porque as Janelas não tinham vidros.Tivemos muitos dias de passar fome negra, porque se eu fosse a casa comer chovia. Por sorte minha o Fifas tinha o Irmão Velhilho, que era um pouco mais velho que nós e que tambem ele fugia constantemente, a Mãe deles a Ti Rosa deixava-lhes o comer até que um belo dia fomos experimentar se dava para entrar pela Trapeira (Chaminé ) conseguimos e a partir daqui eu comia o comer do Venhinho e as coisas melhoraram e muito.Por volta dos oito anos de idade e com medo da tareia do eu Pai decidi ficar fora de noite. No tempo em que toda a gente tinha medo de andar depois das Santissimas Trindades, o medo da Porrada tirava-me o outro medo os meus Pai acompanhados de toda a gente andava -me procurando, estava escondido na casa velha do porco do Ti Manel Guerra e só quando jurou por duas vezes a gritar pela alma do Avô dele que me não batia eu apareci.
OS CIGANOS ERAMOS NÓS

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