quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O INESQUECIVEL JOLIM DOS ANOS CINQUENTA

Jolim:

Hoje vou ir um pouco mais além; sabes que no tempo em que te deixaram viver tiveste de todos nós um tratamento digno de poders sere aquilo que eras. Sabes que aquele acto tressloucado na pedra vinte, foi um acto irreflectido de vaidade e o mais certo acompanhado de um copo de vinho. Sabes que fui eu e não ele que te escolhi de entre vários irmãos e que te retirei da vossa mãe Menda para te meter na Lira que te alimentou. Sabes que não nos seria possivel alimentar a todos que eram 16 na totalidade. Tinhas três meses e meio quando tudo aconteceu. Foste um herói porque naquelas condições sobreviver 13 dias e tão ferido, ainda con seguir chegar a casa não te foi fácil.
O tratamento que te fizemos quando tiramos os chumbos com a barrela da cinza funcionou, ou melhor, teria de funcionar porque naquele tempo não havia mais nada a que recorrer.
Já lá vão mais de 50 anos e tu que já partis-te deste mundo há tantos anos e, quem te envenenou, já partiu tambem penso eu e já agora, o Luis Guerra que comigo te tratou, já morreu também. Para te recordar para lá do pinheiro que o Quim meteu junto há tua sepultura secou mas o lugar onde fos-te sepultado esse continuou bem presente e vou lá muitissimas vezes. Acredita que sempre que de lá me aproximo te recordo.
Já agora quero que saibas que pouco depois de teres partido aqui de Cancelos a Rosa Jigueira sofreu uma mordidela raivosa; valeu-lhe o empenho do meu Pai que rápidamente a enviou para o Hospital. Veio cá a Venatória, mandou abater todos os cães e gatos, ganhamos bom dinheiro cães a um escudo, gatos a vinte e cinco tostões, eram mais difíceis de apanhar. Nem te digo nem te conto, quando chegou o Verão e o caudal desceu, só se viam cães e gatos amarrados ao pendulho, mas compreende que esse dinheiro deu para muitos rebuçados na Loja do Ti Mário Barrigudo. Quero que saibas ainda que, depois de ti, tenho tido muitos cães e a eles tenho batizado com o mesmo nome. Tem sido essa uma das formas de te recordar, mas nunca de te substitir porque tu não és substuível e, já agora, deixa lembrar-te que ainda tenho saudade dos coelhos que caçavas.
Nunca fui própriamente um caçador mas tendo comigo hoje, se vivesses, tinha sido de certeza.
Obrigado Jolim pela companhia e vigilância que fazias e pelas largas centenas de coelhos que juntos comemos que naquele tempo foi importantissimo. Obrigado meu Fiel amigo.

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